sábado, 25 de dezembro de 2010

coragem

por que diabos me veio essa palavra?!
não importa.

importa que posso desmembrá-la
em "cor" e "aragem"
e já me vem a imagem
das pradarias ao vento

e já para lá sou transportada
no tapete mágico da memória
das histórias, das gravuras...

dos livros de infãncia.

a cor da aragem era gris
de um cinzento mui claro.

era aragem prata fosca
a dissipar-se no vento

coragem, galera!
ao mar, galera. a navegar!
o ano novo traz essa aragem do bem
essa nova era que se anuncia
"de gente fina elegante e sincera"

coragem!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

tremoço

na falta de grandes acontecimentos
grandes emoções
novos amores
novas teorias
vou brincando com as palavras

começo a escrever
a partir da primeira palavra que me vem

assim como Teodora, Realeza...
hoje me veio "Tremoço"

que diabo é isso?
um cereal.
ora, eu tinha cá comigo essa intuição

desse cereal se faz um doce

(eu tinha o doce em minha vaga lembrança)

eu tenho a lembrança
feita de palavras

doces, azedinhas
e faço poemas com elas

faço doce de poemas...

e ainda que eu saiba
que o amargo é tão necessário
como os outros sabores

(faz bem ao fígado, ao coração...)

nas palavras não o aprecio

deixo as palavras amargas
e suas histórias
para o simples registro da memória
registro neutro, sem afeto, sem dor.

e aproveito a memória das boas lembranças
- doces e azedinhas -
na culinária dos poemas

e o salgado, é claro, deixo para o mar
onde minha lembrança insiste em vagar...

querem um doce?

; )

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Realeza

as vogais que se alternam na palavra
e mudam a forma da boca
e movem nosso maxilar
continuamente

as consoantes fazendo o atrito
ronronam, zumbem
tocam a língua nos dentes
de repente,
ceceam

tornam reais
(ambas)
pensamentos abstratos
pacatos,
silenciosos...

fazem ruído, repente
repentino

fazem desatino,
som de pente com seda
coceira nos lábios

gaitinha improvisada

as vogais, as consoantes
antes do novo pensamento
concretas no som
reais,
no tom e semitom

no vermelho chinês
do batom

antes da saliva
framboesa

somos nós.