sábado, 24 de abril de 2010

a velha questão...




ser ou não ser

ser, decerto ser!

falo
de certo ser

do mar ou do deserto
nem longe,
nem perto

ser de um querer-ser
desejo de desejo
de ter, se ter, a si...
a mim onde procuro
e não me vejo
porque ser é não-ser
e ainda é querer
a si, lá, onde não se há

onde não se quer
Ser
homem, mulher
onde Se é...

do humano a tez
o avesso, o viés
o que sou, o que és...

domingo, 18 de abril de 2010

Das antigas

Tríade


De ‘mim que era’ pouco sei agora
tudo é começo, tudo é embrião
mas meu quarto tem o mesmo gosto
e o mesmo cheiro de ‘mim sempre’

do eu tão íntimo e tão estrangeiro
do eu que foge de vez em quando
mas volta inevitável ao abrigo do meu corpo...

estes, o eu e o corpo – nessa viagem
sem procedência nem destino que é a vida –
levarei a conhecer outras terras
colocarei de frente um para o outro
assistirei,
ora identificando-me com o mocinho
ora com o bandido,
às suas infindáveis batalhas...
estarei viva, sobreviva, estarei lá
mas sentindo-me ‘outro eu’ na platéia
em posição de pura inércia, inerme

hora chegará
– que já era hora –
de deixar-me levar pelo corpo
e sentar-me a conversar com o eu...
pois agora é ele quem vai ensinar

nesse dia, quando palco e platéia se confundam
para o viger simples da vida,
deveremos ser amigos, os três,
tão amigos que nem nos demos conta
de habitar o mesmo espaço.

domingo, 11 de abril de 2010

por falar em densidade...

pensar me move d’Isso
pra ver o que me pensa
n'algum lugar

navegar, movimentar
esse vento da mente
que se sente e pressente
à velocidade dos vitrais

o pensar da gente
faz filamento de albumina
nutre retina que vê o invisível
pelas arestas...

o pensar dá colo
carrega daqui para Terra do Fogo
ao País do Nunca
à senda deserta,
raíz de um jogo

domingo, 4 de abril de 2010

um pouco de lirismo...






braços


suaves,

afeitos ao calor do meu hálito

retorcidos

como a ondulação serena das montanhas...



sensíveis, eles e a palma de minhas mãos

e a pressão dos meus dedos

e seus vãos



eu os acaricio lentamente com meu sono



braços da cor

e nas formas

do guioza



braços dos meus abraços,

alados,

abre teus laços,

desenfeita-te

em glicínias brancas

oh, insones braços...