Um corpo estendido é um corpo
Um dedo ferido é um dedo
E tu, ser onipotente?
De onde vem tua criação?
Mostra-te, anda!
Quero ver se tens cauda
Quero logo acreditar
Mas mostra-te por inteiro
Quero conhecer tua história
Quem foi teu pai?
Quem te gerou?
Terias o início num ventre
ou no centro de um planeta que
ainda não existia?
Como podes ter nascido,
se antes de ti nada havia?
E se não me contas porque te trato
assim, então mudo já e Vos peço:
Contai, mostrai
Vós que sois todos os “tus”
vós que estais tão alto
que só podemos vos imaginar, vos criar.
Ainda não? Não quereis vir?
Pois então não vos acredito,
acredito no acaso
(o menos crível
e o mais absoluto dos deuses)
Desafio-vos pois
Aparecei! Mostrai tua face branca
Quero saber se é branca, envelhecida,
negra ou amarela
Vinde, ó ser onipotente!
Não tenhais medo
sou humana, sou tua criação!
branda, inofensiva
É isso, talvez sejais tão pequeno
que não tendes coragem de aparecer
Talvez depois de tantas criações
de criardes um mundo tão imenso
não vos sobrou lugar
Talvez sejais do tamanho de um botão
e carregas o pai no sonho
e a mãe na imaginação
De qualquer forma podeis vir
que vos amparo, ó ser minimamente grande
e infinitamente mínimo
Vos amparo em meus olhos
Se neles não couberdes, entre minhas mãos
e ninguém vos descobrirá
Guardar-vos-ei todas as noites
no fundo da gaveta da cômoda
e nas manhãs por-vos-ei ao sol,
no beiral da janela.
E então, finalmente, ides contar-me
o mistério de tudo
os segredos da criação.
04/93
domingo, 30 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
um soneto
Desencanto
pensei não haver mais o sentimento
a cingir meu peito em sua urdidura
alguém de carne e osso que me jura
sermos deuses um e outro em seu momento
devo acreditar pois sou a pretendida
de um deus poeta que me faz linguagem
assim fazendo volto a ter a imagem
do ser mortal, amor de sua vida
incontestável, faz dos versos seus
meus diversos nomes, sólida urgência
mas que me vê sempre onde estou ausente
é porque ainda que se creia um deus
sendo ele poeta nessa existência
sou-lhe palavra e palavra somente...
pensei não haver mais o sentimento
a cingir meu peito em sua urdidura
alguém de carne e osso que me jura
sermos deuses um e outro em seu momento
devo acreditar pois sou a pretendida
de um deus poeta que me faz linguagem
assim fazendo volto a ter a imagem
do ser mortal, amor de sua vida
incontestável, faz dos versos seus
meus diversos nomes, sólida urgência
mas que me vê sempre onde estou ausente
é porque ainda que se creia um deus
sendo ele poeta nessa existência
sou-lhe palavra e palavra somente...
domingo, 16 de maio de 2010
da infância...
procure encontrar-te
todos os dias
com algo que te faça feliz:
o vôo de umas andorinhas
fundindo-se às nuvens,
o perfume hortelã de uns olhos distraídos,
a música da radiola
passeando janela afora
em pleno meio-dia
junto ao canteiro da escola.
todos os dias
com algo que te faça feliz:
o vôo de umas andorinhas
fundindo-se às nuvens,
o perfume hortelã de uns olhos distraídos,
a música da radiola
passeando janela afora
em pleno meio-dia
junto ao canteiro da escola.
sábado, 8 de maio de 2010
domingo, 2 de maio de 2010
voltando às curtas, curta!
leste-oeste
diários, dicionários
não fosse a palavra
e seria apenas o sol
nascendo e se pondo
várias e repetidas vezes
na moldura de minhas janelas...
diários, dicionários
não fosse a palavra
e seria apenas o sol
nascendo e se pondo
várias e repetidas vezes
na moldura de minhas janelas...
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