domingo, 18 de abril de 2010

Das antigas

Tríade


De ‘mim que era’ pouco sei agora
tudo é começo, tudo é embrião
mas meu quarto tem o mesmo gosto
e o mesmo cheiro de ‘mim sempre’

do eu tão íntimo e tão estrangeiro
do eu que foge de vez em quando
mas volta inevitável ao abrigo do meu corpo...

estes, o eu e o corpo – nessa viagem
sem procedência nem destino que é a vida –
levarei a conhecer outras terras
colocarei de frente um para o outro
assistirei,
ora identificando-me com o mocinho
ora com o bandido,
às suas infindáveis batalhas...
estarei viva, sobreviva, estarei lá
mas sentindo-me ‘outro eu’ na platéia
em posição de pura inércia, inerme

hora chegará
– que já era hora –
de deixar-me levar pelo corpo
e sentar-me a conversar com o eu...
pois agora é ele quem vai ensinar

nesse dia, quando palco e platéia se confundam
para o viger simples da vida,
deveremos ser amigos, os três,
tão amigos que nem nos demos conta
de habitar o mesmo espaço.

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