domingo, 30 de maio de 2010

aquele

Um corpo estendido é um corpo
Um dedo ferido é um dedo
E tu, ser onipotente?
De onde vem tua criação?
Mostra-te, anda!
Quero ver se tens cauda
Quero logo acreditar

Mas mostra-te por inteiro
Quero conhecer tua história
Quem foi teu pai?
Quem te gerou?
Terias o início num ventre
ou no centro de um planeta que
ainda não existia?
Como podes ter nascido,
se antes de ti nada havia?

E se não me contas porque te trato
assim, então mudo já e Vos peço:
Contai, mostrai
Vós que sois todos os “tus”
vós que estais tão alto
que só podemos vos imaginar, vos criar.

Ainda não? Não quereis vir?
Pois então não vos acredito,
acredito no acaso
(o menos crível
e o mais absoluto dos deuses)

Desafio-vos pois
Aparecei! Mostrai tua face branca
Quero saber se é branca, envelhecida,
negra ou amarela

Vinde, ó ser onipotente!
Não tenhais medo
sou humana, sou tua criação!
branda, inofensiva

É isso, talvez sejais tão pequeno
que não tendes coragem de aparecer

Talvez depois de tantas criações
de criardes um mundo tão imenso
não vos sobrou lugar

Talvez sejais do tamanho de um botão
e carregas o pai no sonho
e a mãe na imaginação

De qualquer forma podeis vir
que vos amparo, ó ser minimamente grande
e infinitamente mínimo
Vos amparo em meus olhos
Se neles não couberdes, entre minhas mãos
e ninguém vos descobrirá

Guardar-vos-ei todas as noites
no fundo da gaveta da cômoda
e nas manhãs por-vos-ei ao sol,
no beiral da janela.

E então, finalmente, ides contar-me
o mistério de tudo
os segredos da criação.

04/93

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