sábado, 2 de julho de 2011

outro da gaveta, dos idos de 2001... (postado sem revisão)

Óleo sobre fala


Meus conhecimentos ou impressões sobre pintura são parcos e, temo, extremamente pontuais. Mas, à mercê da crítica de leitores experts no assunto, arrisco expô-los.
Impressões, nesse caso, são como imagens impressas na memória, ‘pintadas’ mesmo em minha história. No traço e suas cores, no movimento e suas luzes e sombras, no espaço e sua profundidade, humildemente fico eu em perspectiva.
Salvador Dalí é pura nitidez e definição, dele recordo Muchacha en la Ventana, e todo o azul de um olhar que não se vê. Velázquez carrega no mí(s)tico, e Las Meninas enfeitiça por sua feição esfíngica, seímos no inconsciente. Goya, impressionante, no clarão feito de tintas no momento derradeiro: . Magritte, lírico e sonâmbulo, recorta parte de um rosto, coloca-o ao lado, esvazia o velho de chapéu negro e bengala, chamado O Terapeuta. Edward Hopper, em Hotel Room, descansa nosso olhar no langor da jovem que lê horários de trem. Cèzanne, se é que possa alguém alcançar o áspero mais macio de suas naturezas mortas. Degas é minha aula de balé mais longínqua e mais esperada. Sorolla e Kroyer pintaram passeios pela praia de duas damas e suas esvoaçantes roupas, e os segredos trocados debaixo dos chapéus. Kandinsky é um mergulho num balde de tintas e brinquedos de todas as cores e formas que se possa imaginar. Monet, em pinceladas curtas, em mosaicos de dura visão, recria o onírico dormente em minha alma. Roy Lichtenstein brinca de bolinhas que viram bolhas de sabão num banho de milhares de pontos vermelhos e azuis.
E há o momento em que as palavras se fazem rasas e acabam diluídas no silêncio incrivelmente falante das imagens eleitas. Assim, para minha sorte e deleite, é quando então posso calar e fruir.

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